Ponto de Equilíbrio
Do financeiro à liderança: como gerar valor e acelerar sua integração em novas funções
Existe um conceito em Administração e Ciências Contábeis utilizado para medir a saúde financeira de uma empresa (ou organização) e sua capacidade de se manter na ativa.
Trata-se do Ponto de Equilíbrio1 (em inglês, break-even point). Basicamente, é o volume de dinheiro produzido (vendas, serviços, etc.) necessário para cobrir todos os custos e despesas da empresa, sem lucro e sem prejuízo.
Somente para ficar claro, vamos dar um exemplo bem simples. Imaginemos uma empresa que possui custos e despesas mensais de 50.000,00 (aluguel, salários, compras de mercadorias, etc.). Essa mesma empresa tem uma margem de contribuição de 25,00. A margem de contribuição é quanto sobra da receita de venda após subtrair os custos e despesas variáveis. Ou seja, depois que desconto o preço de custo do produto e demais valores necessários para a venda, quanto efetivamente sobra?
Se essa empresa vende o produto por 100,00, mas o custo dessa venda é 75,00, ela tem de margem de contribuição 25,00.
Assim, se dividirmos os custos e despesas mensais de 50.000 pela margem de contribuição de 25,00 (50.000/25), chegaremos ao valor de 2.000 unidades. Isso quer dizer que, durante um mês, a empresa precisa vender pelo menos 2.000 PRODUTOS somente para cobrir seus custos e despesas, somente para deixar suas portas abertas. Tudo que ela vender após essa quantidade se torna seu lucro.
Dessa forma, basta imaginarmos o ponto de equilíbrio como aquele momento (ou valor de faturamento) em que tenho o suficiente para sustentar o negócio sem prejuízo, mas também sem lucro. É uma medida importante para se entender como o negócio deve performar.
Esse conceito ajuda no planejamento, na análise de risco do negócio, na tomada de decisão estratégica e também numa eventual análise de viabilidade do negócio para lançamento de novos produtos, projetos, etc.
Certo até aqui? Na verdade, eu quis te contar um pouco sobre ponto de equilíbrio “tradicional” para depois entrarmos em outro conceito. Espera um pouquinho.
O professor de Liderança da IMD School da Suíça Michael Watkins escreveu o livro “Os primeiros 90 dias”2. Trata-se de um manual para ajudar novos gerentes (e profissionais em geral) a se adaptarem às novas posições e acelerarem o desempenho organizacional nos primeiros 3 meses de transição.. Podemos chamar de transição quando o profissional assume uma nova posição dentro da empresa ou até mesmo quando ele é realocado para outra organização. Ou seja, é quando acontece uma mudança na sua condição de trabalho.
Watkins traz uma metodologia prática para ser aplicada desde o dia 1 do novo trabalho, visando acelerar os resultados e auxiliar os profissionais a evitarem os erros comuns em momentos de mudanças profissionais.
E é aí que ele traz uma nova roupagem do conceito de ponto de equilíbrio da Administração. Ele explica que, no contexto corporativo de trabalho, o ponto de equilíbrio é aquele momento em que você começa a gerar valor na nova função, superando o investimento feito pela organização na sua adaptação/transição.
Vamos explorar um pouco mais isso.
Se uma empresa contrata um vendedor, é tecnicamente fácil mensurar o ponto de equilíbrio desse vendedor. Posso observar o momento em que o volume de vendas que ele faz (e o lucro advindo dessas vendas) supera o que é gasto com o salário e comissões dele.
Esse vendedor pode se adaptar no primeiro (ou primeiros meses), entender a cultura da empresa, conhecer melhor o produto e assim que entrar no ritmo de trabalho começa gerar vendas e é possível medir se ele é um vendedor lucrativo ou não para a empresa. A partir daí, é possível ir além, traçando, por exemplo, o tempo médio necessário para um novo vendedor passar a dar lucro. É objetivo e facilmente mensurável.
E, claro, os custos de treinamento, cursos e seminários entram nessa conta. Lembremos sempre que o objetivo primário de qualquer negócio é o lucro.
Mas, e quando se trata de uma posição onde existe um caráter subjetivo que dificulta medir o desempenho. No caso de um cargo de liderança, por exemplo, eu não posso medir em dinheiro gerado (somente) se o profissional está indo bem ou não. Pode ser o líder de uma equipe de desenvolvimento de software, por exemplo. Como saber se esse líder está indo bem? Ele não me gera "vendas" ou dinheiro diretamente. É implícito e subjetivo como ele produz dentro na empresa.
Só que nesse cenário posso usar outras variáveis para parametrizar o desempenho. É possível visualizar, por exemplo, o turnover de funcionários, nível de satisfação e o resultado dos liderados.
Em ambos os casos, o ponto de equilíbrio do profissional, apregoado por Watkins, objetiva entender com a mesma lente financeira (e não deixa nunca de ser critérios financeiros, afinal estamos falando de empresas) o momento em que o profissional, desde sua chegada na organização, retorna valor. Seja isso mensurado de forma objetiva ou subjetiva.
Se você está mudando de posição ou busca realocação no mercado de trabalho, te convido a considerar alguns pontos.
Entenda o cenário que está chegando.
É necessário conhecer a empresa, seus principais produtos/serviços, perfil do negócio e como a empresa funciona.
Uma forma prática de fazer isso é conversando com funcionários mais antigos e até mesmo marcar um papo com líderes de outras áreas.
Quando você passa a conhecer melhor a organização (ou área nova) que está chegando é possível traçar suas estratégias profissionais e de crescimento de forma mais organizada. Lembre-se que o objetivo é atingir o ponto de equilíbrio o mais rápido e se tornar um ativo valioso para a empresa.
Combine reuniões de alinhamento (1-1) semanais com sua liderança.
É preciso ter um alinhamento de expectativas. Comunicação deve ser assertiva com objetivo de entender o que é esperado de sua posição. E você também precisa explicar de que maneira entende ser possível contribuir. As reuniões chamadas de "One-on-One"3 onde somente você e seu líder conversam sobre carreira, ideias, entregas e expectativas desde que sejam periódicas e consistentes são uma ferramenta importante nessa trajetória.
Trinta minutos semanais diretamente com seu líder serão suficientes para você ajustar o leme da embarcação. É muito mais fácil você ajustar o caminho semanalmente que uma vez a cada dois meses.
Feedback constante e precoce te ajuda a realizar as entregas necessárias. E a melhor pessoa para te dar o feedback assertivo é seu líder.
Ajuste-se à cultura e ao estilo de liderança da organização.
A liderança é mais centralizadora? A comunicação é aberta? Como os demais profissionais lidam com a burocracia (se existir) interna?
Aprender como as coisas funcionam te auxiliará a se adaptar mais rapidamente. Até mesmo para que você possa depois propor mudanças e melhorias, antes precisa conhecer seu local de trabalho.
Construa pontes e alianças.
Pode acontecer que, ao chegar em uma nova posição, você seja visto como ameaça para os mais antigos. Não deixe transparecer essa aura de ameaça, mas busque aliados em seu trabalho. Sejam pessoas que diretamente estão trabalhando com você ou até de áreas correlatas
Busque apoio e suporte dos mais antigos. Encontre formas de se aproximar e consiga parceiros. Serão necessários.
Resumindo essa nossa conversa de hoje, alcançar o ponto de equilíbrio em uma nova posição de trabalho não é apenas uma questão de tempo. É preciso que você tenha estratégia, alinhamento e inteligência relacional. Trata-se de uma construção contínua de valor, afinal o seu trabalho precisará gerar impactos que possam ser mensuráveis. Você precisa encontrar uma forma de deixar sua marca com resultados visíveis e influência positiva no ambiente de trabalho.
E, lembre-se, que não atinge isso sozinho. Seus esforços de aprendizado, de diálogo com sua liderança e colegas, a absorção contínua da cultura organizacional e a construção de conexões são imprescindíveis para que seu valor seja percebido.
Atingir seu ponto de equilíbrio profissional (e superá-lo) é tão importante para você quanto o ponto de equilíbrio é para a contabilidade de uma empresa.
SOUZA, Rubens Feitosa de; OLIVEIRA, Antonio Benedito Silva. Ponto de equilíbrio aplicado à redução de custos: uma proposta de cálculo. Revista de Educação Contábil, v. 10, 2023. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/redeca/article/view/62578. Acesso em: 05/04/2025.
WATKINS, Michael D. Os 90 primeiros dias: estratégias de sucesso para novos líderes em transição. 3. ed. Rio de Janeiro: Alta Books, 2021.
GREAT PLACE TO WORK®. One on One: o que é, importância e como fazer. 3 mar. 2022. Disponível em: https://gptw.com.br/conteudo/artigos/one-on-one/. Acesso em: 05/04/2025.